domingo, 27 de julho de 2008

Costumo lembrar de seu Alfredo entrando na barbearia com a confiança de quem sabe que vai sair de lá com cara de galã de televisão. Seu Alfredo nunca teve cara de galã nenhum, mas sempre mostrou essa tal confiança no olhar, coisas que a gente nasce com e nunca deixa de ter. Ele falava sobre fatos banais que gente mais velha tem o poder de engrandecer. E eu ficava com um fascínio no olhar, um deslumbramento parado de jovem que nunca viveu. Havia um enorme tédio na barbearia, mas seu Alfredo, que toda semana aparecia por lá, me fazia sorrir e pensar que um dia as coisas poderiam ficar melhores. Assim criei por seu Alfredo uma amizade que mais parecia com devoção. Às quintas-feiras meu coração batia tão forte que até hoje creio que foi por pura intercessão divina que o pobre não se explodiu em puro sangue e pulsar. E ele dizia que eu era um menino de futuro, pois ouvia tudo o que os mais velhos diziam. Bobagem. Eu, que atencioso nunca fui, só tinha ouvidos pra seu Alfredo. Encontrei nele, então, o pai, o avô e o irmão que nunca tive. Sim, pois seu Alfredo conseguia ser tudo isso e um pouco mais. Não digo “muito mais” pois soaria piegas e a idade do meu querido amigo não deixaria dizer mais que “um pouco”. Com o passar do tempo, as visitas de seu Alfredo se tornaram mais raras. Primeiro ele aparecia de duas em duas semanas, depois de mês em mês, até que não apareceu mais. Semana passada sua filha me ligou. Achava importante que eu fosse visitá-lo. Seu Alfredo estava na UTI com essas coisas graves que não têm volta relacionadas aos cigarros que ele sempre carregava nos bolsos, na boca e nos pulmões. Não fui. Seu Alfredo faz parte de um seleto grupo de pessoas que eu não agüentaria ver morrendo.

Maria Clara Valentin.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Nunca imaginei que durante meus anos de usuária da internet me fizesse tão decepcionada. O google não é mais como era antigamente e venho através desta pronunciar nosso divórcio quase que definitivo, já que chegamos juntos à conclusão de que as crianças sentirão nossa ausência e será melhor que mantenhamos um relacionamento desses de fachada que se vê por aí. O estopim se deu hoje quando, ao procurar o texto "vai" de Ivan Ângelo, o louco me vem com sites de caráter não muito familiar, mas que a censura da globo classificaria como "recomendado para maiores de catorze anos". O fato é que o bendito texto do pobre Ivan eu não achei. E é assim, entre anagramas, aventais de diretor, texto inicial de última hora e desfechos inesperados que dou à luz a esse pequeno ser que não é, mas quase sendo se mostra o último fruto de nossa união, google. Adeus.