sexta-feira, 22 de maio de 2009

Te digo: é preciso que não se espere. O mundo é rude, a vida é curta. Não espere nada dos dois. Ao olhar pela janela vi o sol nascendo e senti o vento na cara, cara de menina quieta. O vento se queixou aos meus ouvidos que o silêncio branco da manhã que se erguia enchia de sono os espaços vazios. Eu sou sol, vento e sono, um grande espaço vazio. Um grande silêncio branco. Me lembro agora de uma tarde não-sei-onde não-sei-quando em que os espaços vazios e os silêncios brancos preencheram o carro e foi preciso que se abrissem as janelas. Cabeça pra fora, vento nos cabelos e pálpebras. Havia lembrança em tudo. A tarde se foi com um pedaço de mim perdido no vento, pedaço que saltou dos olhos e voou. Aos que perguntam como estou: ando vagando no vento, submersa em silêncio. Não espere.

Maria Clara Valentin